22 outubro 2008

Guerra do Vietnã



Mapa mundi



Mapa Vietnã

De natureza ideológica, foi o mais polêmico e violento conflito armado da segunda metade do século XX. Contou com a determinação das guerrilhas do Vietnã do Norte, para derrotar o governo do Vietnã do Sul. Estendeu-se em dois períodos distintos.
No primeiro, deles, as forças nacionalistas vietnamitas, sob orientação do Viet-minh (a liga vietnamita), lutaram contra os colonialistas franceses, entre 1946 a 1954 a chamada guerra da Indochina.
A Indochina, região assim chamada por ser uma zona intermediária entre a Índia e a China, ocupava uma península do sudoeste asiático e está dividida entre o Vietnã (subdividido em Tonquim e Conchinchina), o Laos e o reino do Camboja. Toda essa região caiu sob domínio do colonialismo francês entre 1883 e assim ficou até a ocupação japonesa, entre 1941-45.
Com a queda da França em 1940, formou-se o governo colaboracionista de Vichy, aliado dos nazistas. Em vista disso os japoneses permitiram uma certa autonomia administrativa feita por franceses. Mas em 1945, com a derrota do Japão, os franceses tentaram recolonizar toda a Indochina. Ho Chi Minh ("aquele que ilumina) ocupa Hanói (a capital do norte) e proclamou a independência do Vietnã. Mas os franceses não aceitaram. O Gen. Leclerc, recebeu ordem de reconquistar o norte. Isso irá jogar a França na guerra colonial depois de 1945, levando-a a derrota, em 1954, quando as forças do Viet-minh, comandadas por Giap, cercam e levam os franceses à rendição. Depois de 8 anos, encerrou-se assim a primeira Guerra da Indochina.

No segundo, uma frente de nacionalistas e comunistas - o Vietcong - enfrentaram as tropas de intervenção norte-americanas, entre 1964 e 1975, o conflito tornou-se elemento essencial da Guerra Fria.

Em 1954, o Gen. Eisenhower, presidente dos Estados Unidos, explicou a posição americana na região pela defesa da Teoria de Dominó: " se permitirmos que os comunistas conquistem o Vietnã corre-se o risco de se provocar uma reação em cadeia e todo os estados da Ásia Oriental tornar-se-ão comunistas um após o outro." Os Estados Unidos, que tinham apoiado a França na Indochina, acreditavam que a queda do Vietnã do Sul acarretaria a de outros países do Sudeste Asiático.

Foi durante a Guerra do Vietnã que se destacou o grupo comunista Viet Minh, que, em sua luta pela libertação, contou com apoio político nos dois países, o do Norte, comunista, e o do Sul, pró-ocidental.
A Conferência de Genebra
Em Genebra, na Suíça, os franceses acertaram com os vietnamitas um acordo que previa:
1. O Vietnã seria momentaneamente dividido em duas partes, a partir do paralelo 17, no Norte, sob o controle de Ho Chi Minh e no Sul sob o domínio do imperador Bao Dai, um fantoche dos franceses;
2. Haveria entre eles uma Zona Desmilitarizada (ZDM);



Sul da ZDM, Vietnã, 1966.
Fuzileiros americanos em patrulha de reconhecimento se preparam para contra-atacar infiltrações norte vietnamitas ao sul da ZDM.
3. Seriam realizadas em 1956, eleições livres para unificar o país .
A ditadura de Diem
Entretanto no Sul, assumia a administração em nome do imperador, Ngo Dinh Diem, um líder católico, que em pouco tempo tornou-se o ditador do Vietnã do Sul. Ao invés de realizar as eleições em 1956, proclamou a independência do Sul e cancelou a votação. Os americanos apoiaram Diem porque sabiam que as eleições seriam vencidas pelos nacionalistas e pelos comunistas de Ho Chi Minh.
Diem conquistou a colaboração dos EUA, primeiro em armas e dinheiro e depois em instrutores militares. Diem reprimiu as seitas sul-vietnamitas, indispôs-se com os budistas e perseguiu violentamente os nacionalistas e comunistas.




Fuzileiros em missão de procura e extermínio.



Helicópteros UH-1, Huey Hogs, atacando posições Vietcong.



An Thi, Vietnã, 1966.

A Guerra Civil e a intervenção norte-americana
Com as perseguições desencadeadas pela ditadura Diem, comunistas e nacionalista formaram, em 1960, uma Frente de Libertação Nacional (FLN), mais conhecida como Vietcong, e lançaram-se numa guerra de guerrilhas contra o governo sul-vietnamita. Em pouco tempo o ditador Diem mostrou-se incapaz de vencer seus adversários.




Dien


O presidente Kennedy envia os primeiros "conselheiros militares" que, depois de sua morte em 1963, serão substituídos por combatentes.



Lyndon Johnson - Presidente dos Estados Unidos (1963-68). Lançou os EUA na mais impopular guerra da sua história. Renunciou a possibilidade de concorrer à reeleição depois do desastre da ofensiva do Ano Tet. (Foto: AFP)
Seu sucessor, o presidente L. Johnson aumenta a escalada de guerra, depois do incidente do Golfo de Tonquim, em setembro de 1964. Esse incidente provou-se posteriormente ter sido forjado pelo Pentágono para justificar a intervenção. Um navio americano teria sido atacado por lanchas vietnamitas em águas internacionais (na verdade era o mar territorial norte-vietnamita).



Um barco monitor ao longo do rio Mekong sendo atacado por forças Vietcong.
Assim os norte-americanos consideraram esse episódio um ato de guerra, fazendo com que o Congresso aprovasse a Resolução que autorizou a ampliar o envolvimento americano na região. Em 1960 de 900 soldados, para 180.000 em 1965; até 540.000 em 1969.
A reação contra a guerra e os hippys
A participação crescente dos EUA na Guerra e a brutalidade e inutilidade dos bombardeios aéreos - inclusive com bombas napalm - fez com que surgisse na América um forte movimento contra a guerra. Começou num bairro de São Francisco, na Califórnia, com "as crianças das flores", quando gente jovem lançou o movimento "paz e amor", rejeitando o projeto da Grande Sociedade do pres. Johnson.


A partir de então tomou forma a movimento da contra-cultura - chamado de movimento hippy. Se a sociedade americana era capaz de cometer um crime daquele vulto, atacando uma pobre sociedade camponesa no sudeste asiático, ela deveria ser rejeitada. Se o americano médio cortava o cabelo rente como um militar, a contra-cultura estimulou o cabelo despenteado, cumprido, e de cara com barba. Repudiaram a sociedade industrial, propondo o comunitarismo e a atividade artesanal, aderiram à maconha e aos ácidos e as anfetaminas. Estimularam a cultura do rock. Seu apogeu deu-se com o festival de Woodstock realizado no Estado de N.York, em 1969. Milhares de jovens negaram-se a servir no exército, desertando ou fugindo para o exterior. Esse clima espalhou-se para outros continentes e, em 1968, em março, eclodiu a grande rebelião estudantil no Brasil contra o regime militar, em 1964, e na França, a revolta universitária contra o gov. do Gen. de Gaulle.
A ofensiva do Ano Tet e o desengajamento
Durante a campanha de 1967-1968, o general norte-vietnamita Vo Nguyen Giap iniciou a denominada ofensiva do Tet (o ano lunar chinês). O gen. Wetsmoreland foi destituído, e o presidente Johnson aceitou as negociações. Para a opinião pública americana tratava-se agora de sair daquela guerra. O novo presidente eleito, Richard Nixon, assumiu o compromisso de "trazer nossos rapazes de volta", de forma a terem "retirada honrosa" e manter seu aliado sul-vietnamita. Nixon fez com que os sul-vietnamitas voltassem a ser encarregados das operações. Abastecendo-os o suficiente de dinheiro e armas eles poderiam lutar sozinhos contra o vietcong. Nixon ordenou o ataque a trilha Ho Chi Minh que passava pelo Laos e Camboja e que servia como estrada de abastecimento do vietcong. Estimulou também um golpe militar contra o príncipe N. Sianouk, do Camboja, o que provocou uma guerra civil naquele país entre os militares direitistas e os guerrilheiros do Khmer Vermelho (Khmer Rouge) liderados por Pol Pot.




Os métodos de tortura foram muito usados na Guerra do Vietnã, e um deles consistia em mergulhar a vítima em um tonel com água, enquanto soldados espancavam suas costas.



Vietnamitas mortos por um pelotão americano que realizava patrulha pela região.
Vietnamitas não faziam parte da guerrilha. Além de não portarem armas, eles usavam roupas de lavradores



Ilha de Tan Dinh, Delta do Mekong, Vietnã, 1965.
Comandante do Batalhão Vietnamita Capitão Thach Quyen interroga um suspeito Vietcong.


Da Nang, Vietnã, 1968.
Huey Hog patrulhando as proximidades de Da Nang em busca de posições Vietcongs

A derrota e a unificação
Depois de imobilizarem militarmente as forças americanas em várias situações,os norte-vietnamitas com os vietcongs, prepararam-se para a ofensiva final. Deixaram a guerrilhas e passaram a concentrar suas forças para um ataque em massa. Desmoralizado, o exército sul-vietnamita começou a dissolver-se. Haviam chegado a 600 mil soldados, mas reduziu-se apenas a um punhado de combatentes. Em dezembro de 1974, os nortistas ocupam Phuoc Binh, a 100 quilômetros de Saigon. Os vietcongs fizeram uma surpreendente ofensiva sobre 36 cidades sul-vietnamitas. Morreram 33 mil vietcongs nessa operação arriscada foi uma tremenda vitória política. Em janeiro de 1975 começou o ataque final. O pânico alcança os sul-vietnamitas que fogem para a capital. Os vietcongues ocupam a embaixada norte-americana, em Saigon.



Saigon, Vietnã, 1975.
Destroços da capital Sul vietnamita, a ponto de ser dominada pelos Vietcongs.

O Sul rendeu-se incondicionalmente. O presidente Thieu parte para o exílio e os americanos retiram o resto do seu pessoal e grupos de colaboradores nativos. Finalmente, no dia 30 de abril, as tropas nortistas rebatizam Saigon como Ho Chi Minh, em homenagem ao líder falecido em 1969. A unificação nacional foi formalizada em 1976 com o nome de República Socialista do Vietnã, 31 anos depois de ter sido anunciada. Mais de um milhão de vietnamitas perecem enquanto que 57 mil mortos e 313 mil feridos norte-americanos, a um custo de US$ 200 bilhões.



Cidade de Saigon, Vietnã, 1975.
Vietcongs entram triunfantes em Saigon, após vinte anos lutando por sua independência.

Conseqüências da guerra
O Vietnã foi o país mais vitimado por bombardeios aéreos no século XX. Caíram sobre suas cidades, terras e florestas, mais toneladas de bombas do que as que foram lançadas na II Guerra Mundial. Para tentar desalojar os guerrilheiros das matas foram utilizados violentos herbicidas - o agente laranja - que dizimou milhões de árvores e envenenou os rios e lagos do país. Milhares de pessoas ficaram mutiladas pelas queimaduras das bombas de napalm e suas terras ficaram imprestáveis para a lavoura. Por outro lado, aqueles que não aceitaram viver no regime comunista fugiram em precárias condições, tornaram-se boat people, navegando pelo Mar da China em busca de um abrigo ou nos campos de refugiados. O Vietnã regrediu economicamente. Os E. U. por sua vez saíram moralmente dilacerados, tendo que amargar a primeira derrota militar da sua história. A CIA e o Pentágono - foram duramente criticadas e Richard Nixon, foi obrigado a renunciar depois do escândalo de Watergate.




Ho Chi Minh


Revolucionário e estadista vietnamita (1890-1969). Personagem lendária para os militantes de esquerda de todo o mundo. Presidente da República Democrática do Vietnã (1954-1969), líder da Guerra da Indochina (1946-1954) contra a dominação francesa e líder na Guerra do Vietnã (1961-1975), pela unificação do Vietnã do Norte e do Sul. Filho de um modesto burocrata, viaja para Londres em 1911 e depois pelo mundo, o que inclui uma passagem como garçom no Rio de Janeiro. Em 1917, fixa-se em Paris, e ingressa no Partido Socialista. Depois, ajuda a fundar o Partido Comunista Francês (1921) e vai estudar em Moscou (1923-1926). Ingressa na III Internacional, o Comintern, braço internacional do Partido Comunista da União Soviética. É designado para atuar na China, onde é preso pelo governo de Chiang Kaishek (1927). Libertado, foi para a Tailândia, onde dirige o movimento antimperialista da Indochina. Expulso, segue para Hong Kong, é preso pelos ingleses. Em 1941, em Tonquim, na China, funda o movimento político Vietminh. Após uma guerra de guerrilhas contra os invasores japoneses, é proclamado, em 1945, presidente da República do Vietnã.
Hoje
A desgraça social

Além de haver uma massa considerável de desqualificados sociais (prostitutas, marginais, ex-traficantes. etc.), subproduto das tropas de ocupação, vivendo nos grandes centros urbanos, o Vietnã ainda conheceu o drama do boat people, quando milhares de refugiados, provavelmente temerosos das represálias do governo comunista (que alias, ao contrário dos comunistas cambojanos, foi benigno no trato com os colaboracionistas e opositores) arriscaram-se em todos os tipos de barcos, navegando ao deus-dará pelo Mar da China, numa desesperada busca de abrigo, sendo desprezados ou repelidos quando tentavam desembarcar nos países vizinhos.



Um suspeito jovem Vietcong chora, após ouvir o tiro de um rifle. Seus captores, homens da tribo chinesa Nung, a serviço das Forças Especias Americanas, fingiram atirar em seu pai, um recurso utilizado para fazer com que o garoto revelasse informações sobre a Guerrilha Comunista.




Guerra na selva


Fuzileiros americanos ocupam uma vila, ao norte de Da Nang.

Compensações vietnamitas

Por outro lado, as terríveis chagas materiais e sociais deixadas pelas Guerras da Indochina, não impediram o afloramento do orgulho nacional vietnamita em ter enfrentado e sobrevivido a três poderosas potências militares (a França entre 1945-54, os EUA entre 1964-75 e a China comunista em 1979), as maiores do mundo. O país finalmente voltou a reunificar-se sob um regime só, atingindo o objetivo do líder Ho Chi Minh e daqueles que se envolveram nas lutas pela libertação nacional daquela época. Os vietnamitas têm plena consciência dos seus méritos, e do que representaram para os povos do Terceiro Mundo que empenhavam-se em favor da sua autonomia política. Além disso, o Vietnã hoje exerce uma liderança natural sobre seus vinhos da antiga Indochina, não sendo difícil estimar para o futuro, superadas as amarguras materiais do presente, a formação de uma Confederação Indochinesa liderada por eles.





Bibliografia
Bonnet, Gabriel - Guerras insurrecionais e revolucionárias, Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 1963.

Burchett, Wilfred G. - Vietnã do Norte, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1967.

Field, Michael - Vento Leste na Indochina, Editora Saga, Rio de Janeiro, 1966, 2 vols.

Ho Chi Minh - A resistência do Vietnã, Editora Laemmert, Rio de Janeiro, 1968.

Horowitz, David - Revolução e Repressão, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1969.

Otero, Lisandro - En busca de Viet Nam, Editora Nuestra America, Montevideu, 1977

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